Para cego ver

Uma mulher cega tateia pontos de braille ilustrados em uma parede.“Descrição da imagem para cego ver”.  A expressão adotada por mim ao legendar fotos postadas em uma rede social causou estranheza e algumas dúvidas entre meus seguidores: Como assim, para cego ver?

Embora soe estranho, a explicação é simples. Quando descrevemos o cenário e todos os componentes de uma imagem estamos criando uma ferramenta para que o usuário cego tenha acesso ao conteúdo de figuras. Ou seja, para que ele, mesmo que de maneira abstrata, possa enxergar.

O recurso da descrição da imagem em sites e outros canais da web parte da mesma premissa da audiodescrição. Agora, por que não adorarmos tal conceito ao postarmos em nossas redes sociais? Hoje, muitos cegos fazem uso do Facebook, por exemplo. Eu mesma conheço vários. E foi a curiosidade de um deles, em saber como eram minhas fotos, que me fez abrir os olhos para o assunto.

Com o auxilio de programas de leitores de tela, os cegos conseguem ter acesso, em áudio, ao conteúdo em formato de texto. No entanto, as fotos precisam ser descritas para que o usuário consiga identificar o que traz a imagem.

Mesmo com a possibilidade de expandir acessos à diversidade humana, o cego enfrenta diversas barreiras em todas as plataformas de comunicação – das mais recentes surgidas na rede, até as mais tradicionais, como o livro. A editora que lançou minha biografia, em outubro, trabalha até agora para cumprir uma exigência feita por mim desde que aceitei o convite de contar minha vida: disponibilizar o livro também em formato acessível a quem não enxerga. Imagine a posição das editoras com relação a outros títulos?

Para se ter uma ideia, de 45 milhões de pessoas com deficiência de nosso país, 35 milhões têm deficiência visual. Como ignorar uma parcela tão expressiva da nossa nação? Você já parou para pensar em como essa população faz para ter acesso a todos os conteúdos que temos a nossa disposição nos dias de hoje, que é totalmente visual? Ou o quanto essas pessoas poderiam contribuir caso tivessem acesso

Da mesma forma como as mídias se convergiram para vários meios, hoje, os recursos de acessibilidade para os cegos também se converteram para novas plataformas. Cabe as editoras e os canais de comunicação acompanharem esses avanços e oferecerem acesso ao público com deficiência, que tem direitos garantidos por Lei, inclusive, como consumidores.

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que relatei na Câmara e que está em vigor desde janeiro deste ano, determina que Nos lançamentos de livros, também devam ser disponibilizadas as versões acessíveis dos títulos. E as editoras não poderão usar nenhum argumento para negar a oferta de livro acessível. Esse é um direito que já está em vigor e deve ser cobrado. Outros estão em processo de regulamentação, como as salas de cinema e casas de espetáculo, que terão um prazo para se adaptarem e garantir a oferta de acessibilidade e recursos como audiodescrição, além de legenda closed caption e Libras.

Assim como uma rampa ou elevador resolvem facilmente meu problema, recursos como a audiodescrição e os softwares com leitores de tela podem fazer a diferença na vida de uma pessoa que não enxerga. Em dezembro, no dia 13, celebra-se o Dia Nacional do Cego. E embora tenhamos à disposição recursos tecnológicos e humanos que acessiblizam qualquer conteúdo, a pessoa com deficiência visual ainda padece com a falta de visão do mercado editorial. Infelizmente, menos de 1% das obras publicadas no mundo é convertida em formatos acessíveis.

A riqueza que a descrição das cenas de um filme ou de uma imagem pode trazer à vida de qualquer pessoa cega abre as portas para um universo de possibilidades tanto ao cego quanto ao vidente.  Só não vê quem não quer!

Assim como uma rampa ou elevador resolvem facilmente meu problema, recursos como a audiodescrição e os softwares com leitores de tela podem fazer a diferença na vida de uma pessoa que não enxerga. Hoje, Dia Nacional do Cego, vamos refletir sobre acessibilidade na comunicação. Ainda temos muito a melhorar nesse sentindo. Para se ter uma ideia, menos de 1% das obras publicadas no mundo é convertida em formatos acessíveis.

A riqueza que a descrição das cenas de um filme ou de uma imagem pode trazer à vida de qualquer pessoa cega abre as portas para um universo de possibilidades tanto ao cego quanto ao vidente.  Só não vê quem não quer!

 

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